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Foto do escritorAriane Angioletti

ILPIs: A necessidade de profissionalização dos serviços

Atualizado: 19 de jan. de 2020

Muitas Casas Geriátricas surgem a partir de um movimento pessoal de um profissional que trabalhou numa Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) e resolve empreender por conta própria, montando sua própria casa.


A história que escuto é sempre a mesma: aquele profissional se reconhecia na atividade de cuidado, gostava de conviver com idosos e interagir com as famílias. Além disso, viu uma oportunidade de negócio, pois inicialmente, seu entendimento do negócio é simplista, partindo de uma conta matemática bastante superficial.


Os candidatos à empreendedores calculam o valor cobrado de mensalidade na casa em que trabalhavam, multiplicado pelo número de vagas que a casa possuía e reduzem os valores de salários dos funcionários e o que imaginam ser os custos de alimentação, água, luz.


Quando o cálculo é tão simplista, é fácil imaginar que uma Casa Geriátrica é uma mina de ouro em potencial! E então aquele profissional pede demissão, aluga uma casa e passa a fazer contato com as famílias que conheceu ao longo de sua atividade como funcionário.


Bom, nem vamos entrar no mérito da ética profissional, ok? Vamos tratar dos pontos que vejo que repetir em t-o-d-a-s as Casas Geriátricas que acabo conhecendo.


- Necessidade dos Alvarás: Uma atividade de prestação de serviços pressupõe a sua regularidade. Isto significa a adaptação de infraestrutura, regularização da construção onde a empresa irá funcionar. Sim! No futuro! Porque nenhuma casa deveria começar a funcionar sem que estivesse com toda a documentação em dia. Sei que a burocracia e a morosidade dos órgãos de fiscalização não colaboram muito com este quadro, mas hoje o objetivo é apontar o que o empresário deve fazer.


- Conhecimento do ramo em que estará empreendendo: Trabalhar numa Casa Geriátrica, ser voluntário numa ILPI, ter convivido com a rotina de uma casa porque teve seu pai ou sua mãe acolhidos numa instituição, são experiências que não lhe conferem o conhecimento necessário sobre o ramo desta atividade. É preciso buscar saber sobre este segmento, seus desafios, o mercado para a atividade, quem são seus concorrentes, quem serão seus parceiros, quais as linhas de financiamento e fontes de créditos existentes, enfim, é preciso conhecer com profundidade sobre a atividade, sobre o dia a dia de uma ILPI. Somente tendo um mapa nas mãos, o empreendedor saberá por onde andar e onde poderá chegar.


- Conhecimento das exigências legais: Como a maior parte dos proprietários vem da posição de funcionários, ou seja, não exerciam o empreendedorismo, o desconhecimento sobre todas as exigências legais é bastante presente. Uma ILPI precisa de profissionais responsáveis técnicos, precisa de um CNPJ, irá recolher impostos, encargos sociais e trabalhistas. Ao receber um idoso sob seus cuidados, assume responsabilidades que, talvez, não consiga dimensionar. Muitos erros estão aqui neste item. Falta de contrato ou a existência de contrato de prestação de serviços não suficiente; falta de ações preventivas nas relações trabalhistas; falta do devido recolhimento dos encargos; falhas documentais nas anotações do dia a dia do atendimento e nas relações com os familiares.

Aqui neste item também entram a inexistência de documentos exigidos pelos órgãos fiscalizadores, que servem para dar segurança na relação existente entre a casa, o idoso, seus familiares e os fiscalizadores.


- "Faça você mesmo": Este item abarca as mais variadas atividades. Os proprietários assumem atividades que não tem conhecimento, capacidade ou, ainda, técnica para fazê-lo. Limpeza de caixa d'água, dedetização de ambientes, pequenas (ou grandes) obras, redação de contratos, emissão de guias para recolhimento de encargos, defesas administrativas junto à Vigilância Sanitária, Corpo de Bombeiros e outros órgãos de fiscalização. Algumas atividades são bastante perigosas, como assumir a indicação de medicação, realização de pequenos procedimentos (como curativos) e a orientação de funcionários em áreas diversas de sua formação.


- Capacitação constante: Muitos destes empreendedores não buscam capacitação, o que me espanta demais! Me espanta porque na internet existe muito conteúdo sobre gestão de pequenas empresas. Conteúdos bons e gratuitos! Muitos desconhecem a existência do Sebrae e dos cursos gratuitos ou de baixo investimento, que tratam de questões fundamentais para quem pretende empreender. E a capacitação deve ser periódica.


- Economia ineficaz: Não contratar um contador, uma assessoria jurídica. Não contratar um engenheiro ou arquiteto para uma obra. Não contratar estudos e profissionais que possam prevenir problemas e colaborar com a padronização, organização, criação de procedimentos, é uma economia ineficaz. Aqui vale o ditado "mas vale prevenir do que remediar". Dou como exemplo a assessoria jurídica, que é a área onde eu atuo. Quantas vezes fomos chamados para um processo trabalhista e, ao recebermos a causa, percebemos que se tratou de uma falha na relação trabalhista que poderia ter sido evitada tão facilmente. Quantas vezes fui chamada para intervir numa rescisão contratual ou na cobrança de valores e quando verifico o contrato - a lei entre as partes - e me vejo com um documento "copiado e colado" da internet que não prevê 1/3 das questões próprias das relações contratuais dentro da prestação de serviços de uma casa geriátrica.


Aliás! Quando assessorados por profissionais, o custo destes pagamentos acabam sendo diluídos pelos gastos que irão evitar. Por isso a importância do investimento em profissionais. A contratação de mão de obra qualificada nunca será um gasto. Talvez esta seja a mudança mais necessária de ser realizada na mentalidade empreendedora. Não apenas dos proprietários das ILPIs, mas de todos que vão navegar nas águas do empreendedorismo.


Este tema é bastante amplo. Mas meu objetivo com estes textos é justamente instigar os leitores a pensar sobre os assuntos, a buscarem informações e a serem "picados" pelo bichinho da inquietação.


As atividades de cuidados não podem ser exercidas de maneira superficial, sem aprofundamento e conhecimento sobre os temas. Cuidar de alguém é uma atividade que deve ser exercida pelas pessoas que possuem vocação para tal e, junto disto, a capacidade de perceber as necessidades que empreender nestes ramos trazem consigo diariamente.

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